quinta-feira, 17 de maio de 2007

Crítica da mídia: 10 impasses

(Historiador do cotidiano)

Análise do artigo “dez impasses para uma efetiva crítica da mídia no Brasil” foi apresentado pelo então doutorando Rogério Christofoletti no Intercom 2003, em Belo Horizonte. O original pode ser acessado através deste link:
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/4395/1/NP2CHRISTOFOLETTI.pdf

A peça trata sobre dez pontos considerados fundamentais que impedem um progresso ético das mídias brasileiras (apesar de, aparentemente, não ser um quadro isolado ao Brasil).

Como abertura, o autor cita Ciro Marcondes Filho: “Uma sociedade sem crítica é uma sociedade morta”.

O jornalista começa citando o caso do suicídio de um policial militar de São Paulo, transmitido ao vivo pela Rede Record (sim, aquela mesma de evangélicos, que abordou a espetacularização do sofrimento humano ao limite).

Dos dez impasses, o primeiro citado é a “concentração e oligopólio” dos veículos de comunicação. Ora, no Brasil cerca de sete grupos controlem mais de 80% do que é visto, ouvido e lido pelos brasileiros. É uma situação crítica pois demonstra uma mídia presa à poucas opiniões, sem poder fugir das linhas editoriais impostas pelos pagadores de salários gordos. Como demonstrativo, o autor cita que no Brasil existiam em 2003 cerca de 41,1 milhões de domicílios com aparelhos de televisão, o que supera por larga margem o número de domicílios com refrigeradores.

O segundo impasse é a “propriedade cruzada e domínio de conteúdo”, que aborda a questão que uma família (ou grupo) pode ser proprietária de diversos veículos de comunicação. Ou seja: quem tem uma concessão de televisão, tem também uma de rádio, tem um jornal impresso, um portal de notícias, e assim por diante. Então não são produzidas informações novas, pelo contrário, os brasileiros são apenas bombardeados com a repetição de conteúdos para que essa massificação faça com que ele aceite sem questionar.

Impasse terceiro, o “coronelismo eletrônico”, é - para o autor - um sério agravante pois ele explica que as concessões de televisão e rádio (sim, você precisa de uma concessão federal para ter algum dos dois veículos) são, em sua maioria, fornecidas apenas a políticos. Assim, nada mais seria que a extensão da influência do curral eleitoral desses políticos para os meios eletrônicos de divulgação de notícias de interesses dos políticos, não dos cidadãos.

Quarto item, ou impasse, é o “dial restrito” que se configura em quase nenhuma brecha para ingresso de novos veículos na exploração do negócio da comunicação, assim o lobbie exercido pelas grandes emissoras de rádio e televisão faz o espectro midiático tornar-se quase exclusividade para rádios e televisões comerciais de grande porte.

Quinto impasse, as “concessões infinitas”, é um ponto complicado pois mostra que as concessões federais às mídias (rádio e televisão) deveriam ser suspensas pois as mídias não estariam cumprindo as contrapartidas de qualidade e conteúdo exigidas por lei. Mas como os veículos midiáticos têm grande poder de penetração, e estão concentrados nas mãos de grupos com influência política (quando não na mão dos próprios políticos), praticamente inexiste no Brasil a cassação de concessões, o que praticamente inviabiliza o controle social da qualidade midiática.

Lei de imprensa caduca”, o sexto impasse, aborda o ponto que a “Lei de imprensa” (Lei federal 5.250/67) foi extremamente importante mas com a rápida reconfiguração das comunicações, a lei tornou-se obsoleta e com definições e ações que já não podem ser consideradas atuais. Assim torna-se patente a necessidade de novas leis que regulem os abusos da imprensa, mas tais projetos de lei sequer saem do Congresso Nacional pois ficam retidas em comissões - compostas de políticos donos de concessões de rádio e televisão - que dificultam a todos custo que tais leis sejam aprovadas.

Inoperância dos conselhos de comunicação” é o sétimo impasse - ou melhor, sétima lástima jornalística - pois demonstra a falta de organização dos jornalistas em criar, desenvolver e manter organizações de classe que sejam eficientes, que combatam desvios éticos da profissão, e que defendam os interesses midiáticos da população brasileira.

Já o oitavo impasse, “arcaísmo no empresariado” demonstra claramente que os empresários brasileiros da área de comunicação pouco se importam com mudanças no setor já que estas podem vir a desbalancear o equilíbrio de poder que os barões da mídia possuem. Entre outros comportamentos, o empresariado acredita não precisar dar satisfações públicas do seu negócio, o que inclui explicitar sua política editorial, fator que poderia levar ao esclarecimento da população brasileira sobre o posicionamento - nem sempre claro - dos veículos midiáticos.

O nono impasse - “categoria não pode cassar profissionais faltosos” - é uma herança também do sétimo. Na falta de órgão jornalístico com competências legais para cassar licenças de profissionais antiéticos, a sociedade fica refém de jornalistas cada vez mais desinformadores.

O último mas não menos importante, “autismo na sociedademostra que não apenas os jornalistas são desorganizados e não há incentivo do governo em organizar associações fortes, mas demonstra um problema maior: a sociedade é ineficaz (beirando a incapacidade) de criticar suas mídias e assumir posturas de negação daquelas desinformações veiculadas.

A sociedade brasileira simplesmente não critica o que assiste, ouve ou lê. Aceita passivamente todo aquele conteúdo sem qualquer tipo de questionamento.

O autor conclui seu artigo mostrando que há uma tímida iniciativa pública para analisar e promover uma mídia mais comprometida com a população, como os sítios na internet: Monitor de Mídia, Observatório da Imprensa, Instituto Gutemberg e SOS Imprensa.

A crítica dos media* precisa ser entendida não como pichação deliberada, censura, mutilação ou depredação de conteúdos e programações. A crítica não é modelo, é método, instrumento. Conjunto de dispositivos sem os quais se dissolvem os critérios para uma leitura mais aprofundada da realidade. Se os meios de comunicação refletem a vida contemporânea e dela fazem parte, criticá-los é focar a própria vitrine das atividades humanas”, encerra o autor; e este jornalista assina embaixo.


* (profissionais que fazem a mídia, e seus veículos)

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