(Historiador do cotidiano)
O que eu vejo é uma intromissão civil nos assuntos militares (sem que os militares se intrometam nos assuntos civis) e, principalmente, vejo um governo civil que usa e abusa de propaganda (e aqui rejeito a idéia de ter que diferenciar para os leitores entre "propaganda" e "publicidade", pois considero que todos saibam a diferença) para se impor de forma vergonhosa e desmoralizando as Forças Armadas num revanchismo onde cada um de nós, cidadãos brasileiros, saímos prejudicados.
Quanto aos salários? Ok, eu entendo que todo mundo está ruim. Mas essa falta de verba não pode justificar o sucateamento das nossas Forças Armadas. Enquanto o governo compra o Aerolula gastando mais de 70% do orçamento da Força Aérea (que, ao contrário, deveria ter sido comprado com recursos da Casa Civil, dada a destinação operacional), corta hora de vôo dos cadetes e horas de vôo de treinamentos.
Aconteceu agora em 2006 a Operação Cruzex III, que pudemos acompanhar via internet, e a frase que mais se via era "acertar o alvo não é sorte, é treinamento". Mas, ora, que tipo de treinamento nossos militares podem desfrutar se não há verba? O caso dos controladores é um exemplo patente disso. Deveria haver muito mais profissionais na área, em escalas melhores, e todo mundo ganhando compatível com a importância de sua função (mas o governo não dá esses aumentos aos militares, em compensação o judiciário e o legislativo... tenho até vergonha de comentar).
Essa retórica esquerdista que inunda as ações do governo deve ser combatida. A verdade tem que ser a mãe das ações, de ambos os lados. Quanto aos comandantes militares, salvo raras e honrosas excessões, não têm mais os pré-requisitos para serem líderes. Estão no comando mas as tropas não mais os seguem. Não li ainda a Veja esta semana, mas um colega me telefonou e disse que na reportagem sobre os controladores, o ministro da defesa estava sendo entrevistado e alegou que não houve contenção de verbas para o setor. Nesse instante um brigadeiro, um militar de verdade, interrompeu o ministro e apresentou os dados da verdade, os quais provavam que o político estava redondamente enganado. Esse militar merece uma medalha, mas vai - provável e infelizmente - ser punido.
Que tipo de governo é esse que fala em melhora da aviação civil e sofre uma ação do ministério público federal pedindo o fechamento da anac e retorno do DAC porque segundo um parecer do MPF, a esculhambação começou quando os civis - e todas aquelas coisas que tanto foram mostradas pela imprensa nos últimos quatro anos - assumiram esse setor. Estava organizado com os militares e quando os civis assumiram, bem, vocês sabem como está atualmente.
E que espécie de política é essa de defesa que deixa uma lacuna na defesa aérea? Que desloca caças e desfalca unidades aéreas para suprir uma brecha da D.A. sobre a capital federal, brecha essa já prevista há muito tempo mas não sanada em tempo hábil? E pega caças de segunda mão ao invés de investir na tecnologia nacional ou transferência de tecnologia com compra de caças ultramodernos?
Voltemos a questão da interferência civil nos assuntos militares: o presidente da associação dos controladores, logo no início de tudo isso (para não adjetivar), foi convidado à uma reunião no ministério da defesa com o titular da pasta e à qual - a pedidos do presidente da Nação - juntou-se o ministro do trabalho para, segundo o próprio presidente (em matéria publicada na Folha Online) dar o caráter sindicalista ao movimento dos controladores.
O que o governo quer é desmoralizar nossas Forças Armadas. É a grande verdade por trás de tudo isso (para, novamente, não adjetivar).
A verba toda que deveria ser usada para os brasileiros de bem está sendo empregada em programas assistencialistas - tipo bolsa-eleição - onde, ao contrário do que o atual presidente declarou na campanha de 2002 ("Não devemos dar o peixe e sim ensinar a pescar", e o que significa todos esses programas assistencialistas?), desviando dinheiro da Previdência e de outros setores - nos quais eu, você e todos os brasileiros trabalhadores - gastam 1/3 do ano de esforço só para sustentar tais programas.
A verba existe. Só não está sendo bem empregada. E os controladores estão - infelizmente - pagando o pato da vez.
É uma vergonha!
Quanto aos militares no poder novamente, não sei se desejo isso. Mas observo que isso é cíclico no Brasil. Os civis declararam independência, a coisa virou bagunça, os militares assumiram e transformaram em república; os civis assumiram e virou desordem novamente, com direito a ditador e tudo mais (Getúlio) mas, em 64, os militares assumiram novamente e ajeitaram as coisas. Houve excessos? Houve, em AMBOS OS LADOS. Deve-se lembrar que foi um período de excessão, não de regra. Os militares devolveram o poder aos civis em 85 (Castello Branco queria devolver em 65 ou 66, mas aqui não cabe essa celeuma agora) e virou essa esculhambação que está atualmente. Provavelmente a maior parte dos leitores não viveu isso, mas quem viveu na década de 60/70 tinha coragem de levar os filhos em atendimentos públicos de saúde ou deixá-los estudar em escolas públicas. Hoje em dia, bem, a situação já não é a mesma. Os militares assumirão o governo novamente, para ajeitar essa bagunça? Não sei. E não sei se eu gostaria disso. Mas, como observamos, a situação aqui no Brasil é cíclica...
(E quanto aos controladores, e a todos os militares, que sejam tomadas as providências - inclusive financeiras - cabíveis. A situação está insustentável e eles, militares, não têm culpa e não podem (nem devem) sofrer as conseqüências de uma má administração civil).
Um comentário:
Vale salientar que esses programas assistencialista também implicam no aumento da carga tributária...todo mundo sofre com isso.
Mas já é regra os governos fazerem más escolhas, sacrificarem os eleitores e, no lugar de melhorarem a educação e saúde para que as pessoas possam caminhar sozinhas...dão bolsas-num-sei-o-quê (que só deveriam ser usadas em emergências...mas o Brasil está em eterna emergência...)
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