PAÍS ILUSÓRIO
(Prof. Marcos Coimbra)
Membro Efetivo do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
O Sr. Inácio da Silva, em seu pronunciamento de final de ano, teceu considerações extremamente otimistas, como é do seu hábito, sobre a conjuntura nacional, bem como uma visão prospetiva rósea. Parece que falava de um país imaginário, bem distante da triste realidade vivenciada pela povo brasileiro, com raras exceções. Ora, partindo-se dos mesmos dados, um analista de oposição apresentaria uma visão menos alvissareira. De fato, existem sempre três verdades. A verdade entendida como tal por aqueles que estão no poder, a daqueles que estão em oposição, e a verdade verdadeira.
Sem dúvida, a conjuntura internacional favorável, já há algum tempo, facilitou em muito o comportamento da economia brasileira.
Porém, existem sinais claros de que, a partir de 2008, este quadro passará a sofrer uma reversão de expectativas. Os EUA podem passar por uma "estagflação", segundo a opinião de especialistas no assunto. A crise da "subprime" ainda não está solucionada. Pelo contrário. Seus reflexos continuam a propagar-se, com efeitos multiplicadores em outros centros de poder econômico. Sabendo-se que a economia norte-americana representa algo próximo a 28% do PIB mundial, evidentemente que a crise provoca e continuará a provocar reflexos na economia mundial, em parte compensados, por enquanto, pelo comportamento de alguns BRICs, como a China e a Índia, em especial.
De qualquer modo, teremos uma realidade menos favorável, a partir de agora, em termos de comportamento de variáveis exógenas. Na expressão econômica, podemos deduzir que haverá uma diminuição acentuada no saldo da balança comercial para valores inferiores a US$ 30 bilhões, com a conseqüente inversão do sinal do saldo do balanço de pagamentos em transações correntes, que passará a ser negativo em algo em torno de US$ 3 bilhões. A taxa real de juros continuará a ser indecente, acima de 7%, uma das três maiores do mundo. A carga tributária permanecerá crescendo, apesar da retirada da CPMF, podendo alcançar um patamar de 37% do PIB. O "apagão" logístico continuará a impedir qualquer chance de crescimento do PIB acima de 5% ao ano. Persistirá a criação de empregos de baixa qualidade, com remuneração abaixo de 3 SM, com cerca de 50% da população considerada ocupada atuando na economia informal. O crédito irresponsável, uma das maiores causas do aquecimento do mercado interno, ao lado da concessão de "bolsas esmolas", provocará conseqüências preocupantes, como o aumento da inadimplência dos endividados. O real valorizado em demasia continuará a provocar danos ao processo de industrialização do país. A ausência de uma adoção da meta de pleno emprego na economia brasileira não pode persistir.
Na expressão psicossocial, presenciamos o caos em seus principais segmentos. Na educação, "formamos" quantidade e não qualidade. Os resultados nas últimas avaliações demonstram o desprezo pelo conhecimento, principalmente no relativo aos profissionais da área, mal remunerados, sem treinamento adequado, sem perspectiva. Também o que esperar de quem se orgulha de ser ignorante e ressalta a aversão pela leitura. Na saúde, os hospitais públicos parecem câmaras de tortura. Os recursos, já insuficientes, quando não são desviados, são mal aplicados. Os profissionais do setor são vilipendiados, chegando-se a tentar a implantação de um novo modelo de "fundações", para privatizar o setor público. Na segurança, criam-se a cada dia mais "forças policiais" e o resultado é pífio. O cidadão, agora proibido de exercer seu direito natural de legítima defesa, sente-se abandonado, a mercê dos marginais de todo tipo que o achacam de diversos modos.
Na expressão científico-tecnológica, o volume de investimentos em pesquisa não ultrapassa 1% do PIB, em termos reais. A criatividade não é estimulada, nem há ambiência favorável à P&D, com raras exceções. O Brasil torna-se cada vez mais dependente da tecnologia alienígena. Na expressão militar, o panorama é assustador. As três Forças Armadas estão a cada dia mais desarmadas. Fica evidente que elas estão sendo punidas por quem as suporta, mas gostaria de eliminá-las. As remunerações dos seus integrantes não acompanham o ritmo das demais carreiras de Estado. Acentua-se a evasão de bons profissionais. O equivocado ministério da Defesa continua a demonstrar que nada entende do ramo, nem quer entender. Nossos vizinhos iniciam uma corrida armamentista, sob diversos pretextos e continuamos com material de 30 anos atrás. Nossa indústria bélica foi extinta. Perdemos a cada dia nosso poder de dissuasão e continuamos a ser afrontados por aventureiros.
Na expressão política, o Executivo foi aparelhado partidariamente. Quase quarenta ministérios e mais de 30.000 "cumpanheiros" nomeados por compromissos políticos e não por mérito. O Legislativo, em especial a Câmara dos Deputados, é submisso aos desejos do Executivo. Seus integrantes dependem de verbas orçamentárias federais. Praticamente inexiste oposição. O Judiciário, em sua esfera superior, já possui quase a metade de seus componentes nomeada pelo Sr. Inácio. A corrupção está generalizada. Urge um esforço das forças vivas da Nação para reversão deste quadro.
Membro Efetivo do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
O Sr. Inácio da Silva, em seu pronunciamento de final de ano, teceu considerações extremamente otimistas, como é do seu hábito, sobre a conjuntura nacional, bem como uma visão prospetiva rósea. Parece que falava de um país imaginário, bem distante da triste realidade vivenciada pela povo brasileiro, com raras exceções. Ora, partindo-se dos mesmos dados, um analista de oposição apresentaria uma visão menos alvissareira. De fato, existem sempre três verdades. A verdade entendida como tal por aqueles que estão no poder, a daqueles que estão em oposição, e a verdade verdadeira.
Sem dúvida, a conjuntura internacional favorável, já há algum tempo, facilitou em muito o comportamento da economia brasileira.
Porém, existem sinais claros de que, a partir de 2008, este quadro passará a sofrer uma reversão de expectativas. Os EUA podem passar por uma "estagflação", segundo a opinião de especialistas no assunto. A crise da "subprime" ainda não está solucionada. Pelo contrário. Seus reflexos continuam a propagar-se, com efeitos multiplicadores em outros centros de poder econômico. Sabendo-se que a economia norte-americana representa algo próximo a 28% do PIB mundial, evidentemente que a crise provoca e continuará a provocar reflexos na economia mundial, em parte compensados, por enquanto, pelo comportamento de alguns BRICs, como a China e a Índia, em especial.
De qualquer modo, teremos uma realidade menos favorável, a partir de agora, em termos de comportamento de variáveis exógenas. Na expressão econômica, podemos deduzir que haverá uma diminuição acentuada no saldo da balança comercial para valores inferiores a US$ 30 bilhões, com a conseqüente inversão do sinal do saldo do balanço de pagamentos em transações correntes, que passará a ser negativo em algo em torno de US$ 3 bilhões. A taxa real de juros continuará a ser indecente, acima de 7%, uma das três maiores do mundo. A carga tributária permanecerá crescendo, apesar da retirada da CPMF, podendo alcançar um patamar de 37% do PIB. O "apagão" logístico continuará a impedir qualquer chance de crescimento do PIB acima de 5% ao ano. Persistirá a criação de empregos de baixa qualidade, com remuneração abaixo de 3 SM, com cerca de 50% da população considerada ocupada atuando na economia informal. O crédito irresponsável, uma das maiores causas do aquecimento do mercado interno, ao lado da concessão de "bolsas esmolas", provocará conseqüências preocupantes, como o aumento da inadimplência dos endividados. O real valorizado em demasia continuará a provocar danos ao processo de industrialização do país. A ausência de uma adoção da meta de pleno emprego na economia brasileira não pode persistir.
Na expressão psicossocial, presenciamos o caos em seus principais segmentos. Na educação, "formamos" quantidade e não qualidade. Os resultados nas últimas avaliações demonstram o desprezo pelo conhecimento, principalmente no relativo aos profissionais da área, mal remunerados, sem treinamento adequado, sem perspectiva. Também o que esperar de quem se orgulha de ser ignorante e ressalta a aversão pela leitura. Na saúde, os hospitais públicos parecem câmaras de tortura. Os recursos, já insuficientes, quando não são desviados, são mal aplicados. Os profissionais do setor são vilipendiados, chegando-se a tentar a implantação de um novo modelo de "fundações", para privatizar o setor público. Na segurança, criam-se a cada dia mais "forças policiais" e o resultado é pífio. O cidadão, agora proibido de exercer seu direito natural de legítima defesa, sente-se abandonado, a mercê dos marginais de todo tipo que o achacam de diversos modos.
Na expressão científico-tecnológica, o volume de investimentos em pesquisa não ultrapassa 1% do PIB, em termos reais. A criatividade não é estimulada, nem há ambiência favorável à P&D, com raras exceções. O Brasil torna-se cada vez mais dependente da tecnologia alienígena. Na expressão militar, o panorama é assustador. As três Forças Armadas estão a cada dia mais desarmadas. Fica evidente que elas estão sendo punidas por quem as suporta, mas gostaria de eliminá-las. As remunerações dos seus integrantes não acompanham o ritmo das demais carreiras de Estado. Acentua-se a evasão de bons profissionais. O equivocado ministério da Defesa continua a demonstrar que nada entende do ramo, nem quer entender. Nossos vizinhos iniciam uma corrida armamentista, sob diversos pretextos e continuamos com material de 30 anos atrás. Nossa indústria bélica foi extinta. Perdemos a cada dia nosso poder de dissuasão e continuamos a ser afrontados por aventureiros.
Na expressão política, o Executivo foi aparelhado partidariamente. Quase quarenta ministérios e mais de 30.000 "cumpanheiros" nomeados por compromissos políticos e não por mérito. O Legislativo, em especial a Câmara dos Deputados, é submisso aos desejos do Executivo. Seus integrantes dependem de verbas orçamentárias federais. Praticamente inexiste oposição. O Judiciário, em sua esfera superior, já possui quase a metade de seus componentes nomeada pelo Sr. Inácio. A corrupção está generalizada. Urge um esforço das forças vivas da Nação para reversão deste quadro.
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