quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Cazuza, hipocrisia e arte

(Historiador do cotidiano)Sérgio Vieira de Mello - brasileiro, embaixador da ONU, assassinado em agosto de 2003

Estava a ouvir rádio e, de repente, tocou uma rememoração dos anos 80.

Lá para as tantas... Cazuza em sua embriaguez musical cantava "enquanto houver burguesia, não vai haver poesia!".

Ora que absurdo! Veja bem: a arte de verdade - não a indústria cultural que usa arte como ferramenta capitalista - ela é bancada pelo excedente do capital em circulação. E quem é que tem capital excedente para investir na arte? A burguesia! O próprio título de "mecenas" (aquele que patrocina a arte) deriva do nome do romano Caius Maecenas que - com sua fortuna (com capital excedente às necessidades) - investia pesadamente nas artes. Entenderam então o contra-senso do que ele cantava?
(quem quiser saber mais sobre a questão de mecenas, recomendo o artigo da wikipédia:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mecenas).

A música continuava... o refrão inicia-se com "a burguesia fede... a burguesia quer ficar rica"... e lá adiante ele canta "vamos acabar com a burguesia, vamos dinamitar a burguesia, vamos pôr a burguesia na cadeira, numa fazenda de trabalhos forçados" e logo a seguir declara: "EU SOU BURGUÊS!"

Ora... vamos à análise: o cara é um imundo! (porque fede). E admite que é burguês! Então o que devemos fazer? Dinamitá-lo, acabar com ele, colocar na cadeia e depois mandar para uma fazenda de trabalhos forçados! E ele faz mal a arte porque, como ele mesmo declarou, é burguês - e "enquanto houver burguesia, não vai haver poesia".

Sabe o que a massa humana faz? Ia às apresentações do cara, aplaudiam e cantavam juntos! É UM ABSURDO! O sujeito diz uma coisa sobre a burguesia mas, ao admitir que é burguês, pede tratamento diferenciado? Isso é hipocrisia! É declarar uma coisa e fazer outra. Isso é uma vergonha nacional!

O que eu acho do tal cantorzinho que escreveu essa música? Uma porcaria.

Me perguntaram no msn "mas você, tão fã das músicas da década de 80, como pode pensar isso?". Resposta (tal qual respondi lá): É... em todos os cantos que você vai existirão coisas boas, mas também existirão porcarias.

O cara morre e algum cara de pau muda o nome de uma praça no Rio de Janeiro só para homenagá-lo! É muita puxação de saco.

Agora, quem de vós pode me dizer quem foi Sérgio Vieira de Mello?

Vamos... cadê? Alguma resposta...?

Sérgio Vieira de Mello, brasileiro, aos 55 anos era responsável pela missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Iraque. Foi designado para o cargo em maio de 2003. Poucos meses depois foi assassinado brutalmente através de um atentado terrorista - explosão de carro-bomba - na sede do prédio da ONU em Bagdá, em agosto do mesmo ano.

O cara era um pacifista! Ele fez mais coisa pelo Brasil do que muitos e muitos músicos juntos!

Perguntem-me agora quais homenagens foram feitas a ele? Nenhuma. É uma vergonha nacional maior ainda! Uma palhaçada política, que deve ter rendido alguns votos a algum político anti-ético.

Me perguntaram no msn "mas, você escuta axé! Axé não tem letra de profundida sócio-ideológica nenhuma!". Resposta tal qual escrevi lá: "axé passa essencialmente uma mensagem: alegria! Aconteça o que acontecer estarão falando em festas, em alegria, em diversão, em pensamentos positivos!!! Se eu quisesse ouvir poesia, ia a um recital ou sarau. Ligo o rádio para relaxar, divertir e dançar. E não vai ser com músicas hipócritas feito a desse palhaço que vão me fazer mudar de idéia".

Uma vez me disseram que a unanimidade é burra... eu realmente desconfio quando todas as pessoas pensam a mesma coisa ou, por exemplo, reelegem um barbudo para um segundo mandato presidencial de merda.

Então, da próxima vez que você for recomendar uma música a algum(a) amigo(a), veja do que a letra fala de verdade... e veja se você realmente concorda com os absurdos que são feitos em nome da "arte"!

PS: Quem desejar saber mais sobre este grande brasileiro, poderá acessar o artigo sobre ele na wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sérgio_Vieira_de_Mello

...e lá no fundo ouve-se o cantor Falcão esclarecer em sua canção... "a burguesia fede, mas tem dinheiro para comprar perfume!"
(obrigado Cecília pela lembrança da música)

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