sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Verdades e mentiras

(Historiador do cotidiano)

Qual a diferença entre uma verdade e uma mentira? Ou melhor, qual a semelhança entre uma verdade e uma mentira?

Sim, elas são estupidamente parecidas sim. E sim, há uma estranha semelhança: tanto faz você falar a verdade ou mentir, o que acontece é que em ambos os casos você faz uma afirmação sobre algo.

Se eu digo "o céu é azul!", eu fiz uma afirmação. Se eu digo "o céu é rosa!", eu fiz outra afirmação. Segundo nossos "dicionários de mundo" - os códigos que temos para interpretar o universo que nos cerca - a primeira afirmação é verdadeira para quem tem a visão normal, e a segunda falsa. Mas quem for daltônico pode ver exatamente o contrário, e os dicionários dessa pessoa mostrarão que a segunda afirmação é a verdadeira.

Temos então que a verdade depende do ponto de vista. Nós usamos fatos ou abstrações para fazer afirmações. Se eu falo que nós temos - normalmente - dois braços, eu uso um fato. Se eu falo que nós interpretamos o mundo, é uma abstração baseada em conexões dos nossos neurônios e sensores espalhados pelo corpo.

Esta semana eu dei uma palestra exatamente sobre verdades e mentiras, mas não qualquer uma, e sim as imagéticas. Trabalhar com imagens é muito complicado porque nós somos educados a acreditarmos no que vemos. Desde pequenos nós acreditamos apenas no que vimos, quase como São Tomé, de precisarmos ver para crer.

Só que as imagens mentem. E não é pouca coisa não! Elas fazem afirmações que nos levam a conclusões precipitadas, que nos fazem crer em situações irreais. As cores são fontes de potenciais afirmações: se você pinta seu quarto de uma cor estressante, você vai ficar estressado sem motivos reais, e neste caso seus olhos farão seu sistema nervoso virar sistema puto influenciando assim seu comportamento, suas atitudes, seus pensamentos e até mesmo seu relacionamento com as demais pessoas. Você força a pessoa a ter sentimentos irreais.

Agora imagine se você precisar trabalhar todo dia num escritório com cores que afetam negativamente - fazem afirmações subliminares - o seu sistema nervoso? Vai viver mal, ter uma vida miserável, e não ter a mínima idéia do porquê. Essas afirmações subliminares são encontradas em todos os lugares: cores das igrejas, cores de cartazes, cores de contruções civis e militares, enfim, em todo lugar o qual você possa ver.

E aqui eu falo apenas de uma das qualidades mais básicas de uma imagem: as cores. E aí você tem as formas, o posicionamento, etc etc etc... são muitos objetos para fazerem afirmações - verdadeiras ou não - contra nós.

Mas voltemos ao foco original: as verdades e as mentiras nada mais são que afirmações que fazemos. Afirmamos coisas baseados em dois fatores fundamentais: nosso dicionário de universo, e nossas intenções. E temos que usar ambos tipos de afirmações com cuidado, pois a verdade nem sempre é o melhor caminho.

Quem tem filhos pode confirmar isso: quantas vezes você mentiu para seu filho? Quantas vezes você disse pra ele que o mundo é bonito, é tranqüilo, que as pessoas não adoecem ou que sempre ficam boas? Quantas vezes você disse que um determinado comportamento era bom, ou ruim, sem ser? Quantas vezes você disse que seu filho deveria ser tal profissional quando crescesse só porquê você não foi? Quantas vezes você botou ele na cama, e disse que ia dormir, quando na realidade foi fazer amor? E qual desculpa você deu se seu filho lhe pegou no flagra?

Cada um de nós mente. Alguns muito, outros menos, mas mentem. Mentimos para nossos professores ("o computador deu problema"), mentimos para nossos alunos ("estude que esse assunto vai cair na prova"), mentimos para nossos pais ("não, ainda não fiz amor com ela"), mentimos para nossas namoradas ("é claro que eu lembro do dia que nós fazemos aniversário de ter comido a primeira paçoca com feijão verde"), mentimos para nossos amigos ("cara, pode confiar em mim, nessa viagem não vai acontecer nenhuma presepada"), entre centenas de outras ("está tudo sob controle!"), e assim por diante.

O universo que nos cerca é muito complicado. Demais. Eu já desisti de compreender muitas coisas, e assim vivo mais feliz. Não uso mais relógio, deixei de me preocupar com horas, pois mais que que amarras de compromissos, eles prendem nossas almas.

Mas a verdade por trás de tudo isso? Verdade e mentira sempre existirão! Sempre, isso é inevitável. Mas você, prezado leitor, quer minha opinião? Então lá vai:

A verdade, se usada para educar (não para ferir), ainda é - e sempre será - o melhor caminho!
(Historiador do cotidiano)

Lembre-se sempre que a verdade o libertará!

Felizes verdades a todos, e desejo um excelente final de semana!

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