quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pre-sal: carencia de um poder naval

PRÉ-SAL, CARÊNCIA DE UM PODER NAVAL

Ainda recentemente as emissoras de TV, do Senado e da Câmara,
transmitiram discursos acalorados de congressistas, alguns até
“mensaleiros” alforriados, alarmados, amedrontados mesmo com a
reativação no Atlântico Sul de uma frota de combate alienígena, nada
mais nada menos do que o apêndice de uma armada que sozinha supera o
conjunto das suas congêneres pertencentes às demais grandes potências.
A dura realidade é que governo e congressistas ainda não se deram
conta de que países, que se respeitam a si mesmos, colocam os
objetivos nacionais julgados vitais para o porvir de seus povos acima
do bem e do mal. São as intocáveis “razões de estado” dos poderosos
não admitidas pelos políticos, mais precisamente aqueles do altruísmo
inocente que, crédulos de carteirinha, se somam na retórica inútil e
sentimental a alguns diplomatas, todos de igual modo cegos e teimosos.

O governo se ilude: quatro submarinos convencionais e um nuclear, a
negociar com a França, não vão resolver o problema. Isto pode adiantar
no confronto com potências médias, “status” alcançado pelo Brasil
talvez na comunidade latino-americana, porém, jamais vai conseguir
intimidar os oponentes fortes capazes de projeção de poder no além
mar. Submersíveis de propulsão comum, salvo melhor juízo, poderiam ser
de valia se dispusessem, pelo menos, do recurso para o disparo de
mísseis anti-navios lançados desde os tubos de torpedos. A grande
verdade, entretanto, é que o País ainda compra belonaves e não terá
como repô-las em curto prazo, mesmo que convencionais, se postas a
pique.

O projeto nacional de construção de um submarino atômico, de longa
data, ainda patina. Porém, adiantaria apenas a propulsão? Para o
observador mais arguto, a finalidade maior do aumento das capacidades
de romper o contato com rapidez e de deslocamento incógnito por
grandes distâncias, sem se preocupar com o reabastecimento, é muito
restrita. E quanto a possuir um poder maior de retaliação? Para o
cidadão mais preocupado, aquele não especializado no assunto mas que
vai pagar o “nautilus”com seus impostos, evidenciá-lo subtenderia ao
menos a capacidade de disparar balísticos, mesmo que não nucleares,
pelos tubos de torpedos. A 2ª GM, que não se olvide, teve duração
maior devido à resistência e ao desgaste infligidos aos aliados pela
campanha submarina. Quem sabe o mapa do caminho comece por aí?

É de se perguntar: o que fazer? Acontece que nossa indústria naval,
se dimensionada, não vai começar do zero. Muito já se fez, uma Frota
Nacional de Petroleiros (FRONAPE), e isto em estaleiros que hoje são
capazes de construir navios de grande tonelagem com tecnologia náutica
de alto nível. O que falta então para que se faça recuperar a posição,
de 1972, de 2º construtor naval no ranking mundial? Por que não
disponibilizar para a Marinha do Brasil parte dos recursos do PAC?
Atenção, perigo: agora nossa esquadra está incapaz de garantir a posse
das jazidas de petróleo fino no pré-sal do litoral brasileiro!
Precisamos, sim, especialmente de submarinos sofisticados. Ou o
governo investe nessas belonaves ou cede também as nossas plataformas
de exploração de petróleo ao “patrimônio da humanidade”.

Governo, parlamentares, tribunos atordoados deste fragilizado “florão
da América”, atentai bem, mais recursos para reaparelhar a Marinha
poderiam advir, para começar: pelo saneamento dos gastos públicos,
pela poupança com salários menos perdulários para congressistas que se
ocupam apenas três dias na semana, pela recuperação e realocamento de
verbas perdidas no superfaturamento das obras do “PAC”. Sobretudo,
porém, pesaria muito mais na balança a conscientização da opinião
pública de que governantes, políticos e sociedade estão a precisar,
muito mais, ao invés de crescimento mal gerenciado, de um urgente e
emergencial “Programa de Recuperação de Auto-Estima e Sobrevivência
Nacional”. E por falar em sobrevida da nacionalidade, sinal de alerta,
queiramos ou não existe agora além da Amazônia um pré-sal, sendo a
nossa Marinha um pilar vital da garantia dos seus recursos para nossos
filhos e netos.




Paulo Ricardo da Rocha Paiva


Coronel de Infantaria e Estado-Maior

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