Fotógrafos são caçadores neutros ou compulsivos?
Há uma compulsão de tomar a câmera entre as mãos, uma compulsão de praticar o ato (aparentemente inconfessável). [...] Qualquer repórter fotográfico já experimentou esse pequeno estar fora de si, esse pequeno êxtase, quando a pulsão fotográfica o transforma numa espécie de caçador feroz e puramente instintivo, um animal fótico, um predador visual de coisas diáfanas, com todo o seu ser em estadod e total eriçamento, um Rambo das sensações delicadas. As narinas latejam e ele avança com sua ativíssima, especialíssima e secreta passividade. Não se trata de captar a realidade. É apenas o ato que está circulando em suas veias. A fotografia não é a arte de captar, ao contrário, é uma arte de soltar. Como se cada disparo da máquina fosse o fotógrafo que se esvaísse em disparada. Fotografia: o esvair-se. O fotógrafo nada recebe, ao contrário, é como se, através do obturador aberto, ele se permiteisse um vôo cego, um melhor de se expor. Clic!
(A. OMAR apud SANTAELLA, Lúcia & NÖTH, Winfred. IMAGEM - cognição, semiótica, mídias. São Paulo: Iluminuras, 1997. Extraído da página 116)
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