terça-feira, 1 de julho de 2008

Em defesa das Forças Armadas

Carta publicada no jornal Montblaat (http://www.montblaat.com.br/) no. 295, de 27 de junho de 2008:

Em defesa das Forças Armadas
(Marcos Bonin Villela)

Já vestindo uma velha armadura para me proteger dos inevitáveis petardos que virão, gostaria de comentar algumas reportagens publicadas no Mont 294. O assunto central, não podia deixar de ser, é o crime cometido por um grupo de militares do Exército. Repare que escrevi 'um grupo de militares do Exército' e não como está na manchete: 'EXÉRCITO QUE ASSASSINA'. Foi cometida aí a falácia do todo pela parte. Servi à Marinha por trinta anos e admito que vi pessoas que cometeram desde contravenções até crimes. Mas nunca, repito, nunca com o aval da Marinha ou de qualquer outra Força Armada. Foram as 'maçãs podres' que aparecem nas organizações, mas tenho orgulho em dizer, sempre foram devidamente expelidas do nosso meio e entregues à Justiça.

Reconheço que a sua experiência de repórter o levou ao local de tristes acontecimentos envolvendo militares. Sei também que o período em que fomos governados pelos militares não foi um mar de rosas para muita gente. Entendo a sua aversão aos 'milicos'. Mas não deixe a sua inteligência e imparcialidade como jornalista serem ofuscadas por sentimentos pessoais.

O tenente Vinícius está preso juntamente com os demais participantes do episódio. Cadê os outros? Estão lá no Morro da Mineira comemorando com uma cervejinha, talvez esperando a visita de alguma ONG para verificar se eles estão bem, se não houve seqüelas psicológicas ou alguma lesão física ao manejarem suas armas... Tenho a certeza, pois já vi acontecer naqueles trinta anos de serviço ativo, que os militares responsáveis pelo ocorrido serão julgados pela Justiça Militar num prazo muito menor do que se fosse na Justiça Civil. Ouso dizer que em menos de seis meses já teremos uma decisão.

Os civis do Bateau Mouche levaram vinte anos! E ainda estão soltos. Concordo quanto à não utilização das Forças Armadas em ações policiais. Não somos 'capitães-do-mato'. Nossa formação não é para isso. Aprendemos nas Escolas Militares como fazer a guerra. Numa guerra o inimigo tem nome, endereço e usa um uniforme que o distingue dos amigos. Numa guerra é valida a violência total, como já falava o velho Clausewitz no tempo de Napoleão.

Mas mesmo a guerra tem suas regras, será que o Morro da Mineira aderiu à Convenção de Genebra? Numa guerra, com raras exceções, ao ser feito prisioneiro o soldado tem vários direitos. As eventuais transgressões a esses direitos que já ocorreram foram, na maioria das vezes, punidas exemplarmente. Onde estão os matadores dos três rapazes e de tantos outros que foram torturados e mortos por bandidos desde que o Brizola ('El Ratón', segundo Fidel Castro) foi governador deste nosso pobre Estado?

No mesmo exemplar do Montbläat li vários artigos tentando ligar esse deplorável acontecimento à morte de Cadetes durante treinamento na AMAN. Uma coisa não tem nada a ver com outra. A Academia Militar das Agulhas Negras não é um colégio Sion dedicado à formação de senhoritas da sociedade. É uma Escola Militar com seu currículo adaptado às necessidades da vida militar. E isso obriga o aluno ao manuseio de armas, esforço físico, treinamento constante e, coisa sempre esquecida, um mergulho radical nos livros de Cálculo Infinitesimal, Geometria Analítica, Termodinâmica, Física, Eletrônica, Economia, Administração e mais umas trinta matérias cujas provas são rigorosas e exigem muitas noites mal-dormidas para conseguir o necessário aproveitamento. Ser Cadete pressupõe dedicação aos estudos, preparação física (não se exige preparo físico de advogados ou engenheiros...) e cuidado com o material da Fazenda Nacional (uniformes, calçados, acessórios de ensino, etc.). Qual pode ser o conceito entre seus pares de um colega que perde o 'registro de segurança de tiro' do FAL? No meu tempo isso dava IPM.

O treinamento rigoroso se destina a separar desde cedo os menos adaptados, os mais suscetíveis ao fracasso, os que possam constituir um fardo para os colegas numa situação de combate. Sei disso, vi vários colegas desistirem por vários motivos durante toda a minha carreira. É uma seleção cruel? Sim, mas necessária.

Ouso dizer que o mesmo existe nas outras profissões, conheço médicos que hoje exercem outras atividades honradamente e sem problemas psicológicos. Mas, de vez em quando, surgem notícias de alunos de Faculdades morrendo durante trotes. Ou profissionais fracassados se suicidando.

Uma coisa é certa: uma Escola Militar não é um campo de prisioneiros. Ninguém está lá contra a sua vontade. Para se entrar a disputa é grande, as provas são difíceis e os poucos que passam pelos exames psicológicos e físicos são submetidos à prova durante toda a carreira. Sim, a cada ano são realizados cursos e provas, quem não passa fica para trás. A carreira termina. Ponto final.

Comandei uma Escola de Formação de Marinheiros e, ao início de cada período letivo, meu discurso aos novos alunos era o mesmo: os portões estão abertos, só fica aqui quem quiser.

E, quanto ao tratamento concedido aos bandidos, gostei de saber que, em Nova Iorque, quem tocar num policial estará frito! Aqui, frito, só os submetidos ao 'microondas' nos morros. Perguntem ao Tim Lopes.

Perdoe-me se minhas palavras foram excessivas, apenas fui sincero. Abraços.

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