quinta-feira, 26 de julho de 2007

Tristeza de um soldado

(Historiador do cotidiano)

Prezado cel. Jorge Bastos Costa,

Se me permitir, quero fazer minhas as vossas palavras.

Concordo completamente com o senhor, incondicionalmente!

(Cel. Jorge Bastos Costa):

TRISTEZA DE UM SOLDADO

Quando eu era capitão,
Haviam coisas, então,
Que já me revoltavam.

As injustiças sociais,
Os pobres que passavam,
E as crianças que choravam,
Pela fome que passavam.

Lá, no interior de Minas,
Por onde muito andei,
Vi gente pobre lutando,
Peões ordenhando,
Lavradores plantando,
Senhores "enricando",
E seus empregados, suando.

E lá, no Nordeste,
Onde também labutei,
Tive a chance de ver,
As meninas nas praias,
Na beira das estradas,
Vendendo o que,
De mais puro tinham,
Pra poder sobreviver,
E gente que, vivendo,
A poucos metros da praia,
não tinha sequer,
Água para beber.

Depois, lá na Amazônia,
Selva, mosquito, calor
E isolamento enfrentando,
Estrada implantando,
Doenças se espalhando
Com índios morrendo
De gripe e hapatite,
Vi um de meus filhos,
Quase morrer,
Por uma simples bronquite.

Depois, já aqui no Rio,
Vi mais miséria, de perto,
Que nas cidades afastadas.
Meninas que iam pro cais,
Vender café e um cigarro,
Mas que, por um pouco mais,
Entravam em qualquer carro,
Que desmaiavam na rua,
Não por que com a bandeja
Não podiam agüentar,
Mas porque iam trabalhar
Sem um café da manhã,
Simplesmente porque
Nada tinham pra se alimentar.

Mas nem por isso,
Me rebelei.
Nem por isso,
Desertei,
Nem por isso,
Roubei armas
Dos quartéis
Onde passei.
Nem por isso,
Em nenhum momento,
Pensei em trair
O juramento,
Que eu acredito,
Solene,
De sempre
Servir meu país.

Mesmo afastado,
Das lides da caserna,
Continuo sendo
Um soldado.
E, hoje, desolado,
Sinto-me traído,
Desrespeitado,
Por ver que um
Bandido, desertor,
Traidor da Pátria
E, do juramento
Prestado
Foi engalanado.
Agora, só
Falta lhe dar
Medalha
Por bons serviços
Prestados.

Pode ele até
Ter a patente
E, oficialmente,
ser um general.
Mas, estivesse, ele, vivo,
E com toda a disciplina,
Que adquiri,
na vida militar
que vivi,
Eu juro, no pleno domínio,
De minha consciência:
Jamais, em tempo algum,
Haveria eu de lhe prestar,
A minha, regulamentar, continência.


Rio de Janeiro, 15 de junho de 2007.

Jorge Bastos Costa
Cel R/1

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