quarta-feira, 12 de março de 2008

Silêncio que incomoda

(Historiador do cotidiano)

Muito bom dia. Como você já teve a oportunidade de ler aqui no blog há alguns dias atrás, com esse furdunço todo da Colômbia e Equador, com a participação estúpida daquele louco ditador venezuelano, algumas perguntas ficaram no ar das quais relembro duas:

- Por que ninguém falou sobre o Equador e a Venezuela darem proteção aos terroristas narcotraficantes?
- Por que ninguém falou sobre os 300 milhões de dólares doados pela Venezuela aos terroristas narcotraficantes?

O texto abaixo é de autoria de Gilberto Barbosa de Figueiredo, e mostra que eu não sou o único com esses questionamentos. Mais pessoas de bem, inteligentes e bem instruídas - e que não assistem televisão - estão fazendo as mesmas perguntas.

Sobre não assistir televisão, recomendo que você assista a dois filmes excelentes: "Mera coincidência" (com Robert de Niro e Dustin Hoffman) e "O quarto poder" (com Dustin Hoffman, John Travolta e Al Pacino). Principalmente assistam o primeiro.

Vamos ao artigo:

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UM SILÊNCIO INCÔMODO E PERSISTENTE
Gilberto Barbosa de Figueiredo (*)

Em 2007, escrevi um texto que chamei de "UM SILÊNCIO MUITO SUSPEITO". Nele, mostrei que ao lado da esperança advinda das sucessivas declarações de apoio aos princípios democráticos, proferidos pelo Presidente da República, ficava sempre uma dúvida pertinaz, produzida pela insistência em não tomar posição em assuntos relevantes para quem acredita mesmo em democracia. Referia-me à ausência de alguma manifestação de repulsa a regimes sabidamente ditatoriais, como o de Fidel Castro, ou a deslizes praticados contra a liberdade, a exemplo dos promovidos por Hugo Chavez. Ao invés de uma definição clara o Presidente preferia optar por um cômodo silêncio.

Passa-se o tempo e chegamos ao incidente envolvendo a Colômbia e o Equador. O impasse, felizmente, foi, pelo menos até o momento, solucionado por via diplomática, com a intervenção da OEA e do Grupo do Rio. Mas, embora o desdobrar da crise seja imprevisível, creio ser pertinente, desde já, uma reflexão sobre as primeiras reações do governo brasileiro em face do episódio.

Os pronunciamentos iniciais estiveram dentro daquilo que se poderia esperar, ante a violação clara de um direito internacional. Reação, aliás, adotada por todos os governos sul-americanos. Sem maiores informações, em face do fato concreto da invasão, é uma posição que não pode ser questionada. Porém, para perturbar o confronto, aconteceu uma interferência da Venezuela, absolutamente espúria, com temperos de comédia circense. Sobre o fato, nada quis declarar nosso governo. Extra-oficialmente, falou-se de que seria para isolar Chavez. Não foi o que se observou. Na reunião do Grupo do Rio, lá estava o presidente venezuelano absolutamente integrado às negociações, pousando de interlocutor essencial para a solução do caso.

Um silêncio novamente comprometedor aconteceu, quando não se ouviu uma única nota de repúdio às FARC, organização clandestina que pratica atos de guerrilha, tráfico de drogas e terrorismo. Parece que as amizades solidificadas no foro de São Paulo falam mais alto do que os deveres do chefe de estado.

O Brasil, de acordo com sua posição inicial, sugeriu um pedido de desculpas da Colômbia, mas como muito apropriadamente lembrou o jornalista Alexandre Garcia, não seria o caso de também sugerir ao Equador um pedido de desculpas? Afinal, aquele país abrigava, conscientemente, guerrilheiros cujo objetivo declarado é a derrubada do governo da Colômbia, um governo democrático, legitimamente eleito.

E o que dizer sobre o silêncio que, novamente, se abateu sobre o gravíssimo caso dos documentos encontrados com o guerrilheiro morto? Eram documentos que indicavam ligações e até apoio financeiro proporcionados pelos governos da Venezuela e do Equador ao grupo de delinqüentes. Nossa diplomacia preferiu sair na tangente, nada declarar sobre o assunto e, quando apertada por jornalistas, apresentar respostas evasivas. Um dos documentos recuperados após a morte do guerrilheiro Reyes compromete de forma categórica o governo equatoriano, pois mostra ter havido um encontro dele com o Ministro Gustavo Larrea, da Segurança Interna. O ministro, entre muitas demonstrações de apreço pela guerrilha, confirmou o interesse do governo equatoriano em "oficializar as relações com a direção das FARC." Outro documento mostra que Chavez financiou as FARC com a "módica" quantia de US$ 300 milhões. Isso mesmo: trezentos milhões de dólares.

A verdade indisfarçável é que os governos, tanto do Equador, quanto da Venezuela nutrem fortes simpatias pelos guerrilheiros terroristas, considerando-os integrados ao mal explicado "projeto bolivariano". E não se acanham em lhes dar guarida em seus territórios, seja para repouso, seja para a reorganização de suas forças, seja ainda para proporcionar apoio a suas rotinas delituosas.

Obviamente, essas práticas caracterizam clara violação ao direito internacional, tanto quanto a invasão perpetrada pela Colômbia, essa condenada pelo Presidente Lula de forma peremptória. E por que, então, os deslizes dos amigos do foro de São Paulo não mereceram o mesmo tratamento? Por que, quando se trata de condenar companheiros da esquerda, o silêncio é o remédio adotado?

A verdade é que o silêncio do governo, quando se defronta com alguns assuntos em que estão exigidas definições claras de suas convicções democráticas, continua a incomodar. Parece preferir manter a atmosfera de dúvida para seus concidadãos a dar demonstração transparente de repúdio a ditaduras. Parece preferir defender déspotas estabelecidos em nosso continente a proferir declarações de rejeição aos que agridem liberdades democráticas. Parece preferir agarrar-se a seu viés ideológico a condenar seus companheiros na Venezuela ou no Equador.

Fica, pois, a indagação: até quando pretende o Presidente se manter nesse difícil equilíbrio? Em algum momento, com certeza, terá de mostrar seu verdadeiro contorno. Se o do governante com discurso de democrata, capaz de adotar com sucesso políticas econômicas liberais, ou o do amigo e admirador de ditaduras, escondendo-se no silêncio para preservar facínoras, apenas porque posam de companheiros de esquerda. Algum dia, a verdadeira face terá de estar exposta.

(*) O autor é General-de-Exército e Presidente do Clube Militar

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