segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Televisão: a espetacularização da notícia?

(Historiador do cotidiano)

Para a pergunta que me fizeram...

Ao completar 55 anos, a televisão brasileira enfrenta críticas pela espetacularização de sua informação jornalística. Até que ponto o desafio de tornar a informação atraente para o grande público justifica a dramatização de seu conteúdo?


...a resposta:

A questão da espetacularização da notícia é um problema corrente no meio jornalístico, essencialmente no televisivo que usa e abusa das cenas coletadas pelo cinegrafista - o primeiro gatekeeper no processo - para mostrar a realidade conforme o editor de imagens (segundo gatekeeper) acredita que será interessante e que irá manter cativa a atenção do público.

In human communication, in particular, in journalism,
gatekeeping is the process through which ideas and
information are filtered for publication. Gatekeeping
occurs at all levels of the media structure - from a
reporter deciding which sources are chosen to include
in a story to editors deciding which stories are printed,
or even covered[1].
O problema do gatekeeper no telejornalismo é que o conteúdo visual está passível de abusos por suas “características subliminares de codificação e decodificação sociais imagens”[2].

Mas não apenas em mão única da produção para os telespectadores, a audiência parece preferir ver na televisão a espetacularização da notícia onde a televisão “registra cenas (...) apenas imaginadas nos filmes de ficcção”[3]. Assim fica criado o ciclo vicioso que leva a audiência a consumir apenas as produções televisivas sensacionalistas em detrimento das reportagens imparciais e com qualidade, pois a televisão transformou-se em “um fenômeno de massa de grande impacto na vida social”[4].

Segundo Curado[5], a decisão das matérias que vão ou não ao ar depende do “impacto e a oportunidade de divulgação daquela notícia”. Squirra cita Jean Cocteau sobre a espetacularização de uma simples entrevista quando este (Cocteau) afirma que “sempre que encontro um jornalista ele me interroga (...) digo algumas poucas palavras e ele faz o maior barulho possível. Daí por diante responsabilizam-me pelo barulho”[6]. Barbeiro e Lima explicam ainda o papel do editor para evitar a espetacularização[7]:
O editor deve utilizar todos os recursos audiovisuais
possíveis para conseguir uma boa edição, mas nunca
se valer deles para deturpar uma reportagem.

O cuidado maior para prevenir este tipo de situação de espetacularização compete ao editor, pois uma notícia com exagerada carga de emoção, visual ou auditiva, pode “desequilibrar um telejornal ou ainda provocar reações incontroláveis dos telespectadores”[8].

Assim sendo, não! Não se justifica o emprego da dramatização para tornar o conteúdo mais atraente ao grande público pois, ao término da comunicação, observa-se perda de qualidade na informação entregue ao expectador, e perda de tempo da audiência em assistir conteúdo com informações irrelevantes ou deturpadas.

Fontes:
[1] Fonte Wikipédia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Gatekeeping_%28communication%29; acesso em: 01 de outubro de 2006
[2] SQUIRRA, Sebastião Carlos de M. Aprender telejornalismo: produção e técnica. São Paulo: Brasiliense, 2004. Página 135.
[3] BARBEIRO, Herótodo & LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de telejornalismo: Os segredos da notícia na TV. 4ª reimpressão, editora Campus. Rio de Janeiro: 2002. Página 13.
[4] BARBEIRO & LIMA: 2002. Página 15.
[5] CURADO, Olga. A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002. Página 15.
[6] SQUIRRA: 2004. Página 48.
[7] BARBEIRO & LIMA: 2002. Página 106.
[8] SQUIRRA: 2004. Página 94.

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