quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Coincidências?

(Historiador do cotidiano)

O acaso não existe. É mera invenção do ser humano para justificar coisas que ele não consegue encontrar o motivo ou a correlação.

No universo não existem coincidências.

E qual o sentido de se autoquestionar tantas coisas?

Não sei. Nem vou me estressar procurando a(s) resposta(s). Vou viver e buscar as informações que gosto, se um dia eu descobrir, ótimo...

...mas não tenho pressa. Sei que só saberei a resposta quando estiver pronto.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

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segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Televisão: a espetacularização da notícia?

(Historiador do cotidiano)

Para a pergunta que me fizeram...

Ao completar 55 anos, a televisão brasileira enfrenta críticas pela espetacularização de sua informação jornalística. Até que ponto o desafio de tornar a informação atraente para o grande público justifica a dramatização de seu conteúdo?


...a resposta:

A questão da espetacularização da notícia é um problema corrente no meio jornalístico, essencialmente no televisivo que usa e abusa das cenas coletadas pelo cinegrafista - o primeiro gatekeeper no processo - para mostrar a realidade conforme o editor de imagens (segundo gatekeeper) acredita que será interessante e que irá manter cativa a atenção do público.

In human communication, in particular, in journalism,
gatekeeping is the process through which ideas and
information are filtered for publication. Gatekeeping
occurs at all levels of the media structure - from a
reporter deciding which sources are chosen to include
in a story to editors deciding which stories are printed,
or even covered[1].
O problema do gatekeeper no telejornalismo é que o conteúdo visual está passível de abusos por suas “características subliminares de codificação e decodificação sociais imagens”[2].

Mas não apenas em mão única da produção para os telespectadores, a audiência parece preferir ver na televisão a espetacularização da notícia onde a televisão “registra cenas (...) apenas imaginadas nos filmes de ficcção”[3]. Assim fica criado o ciclo vicioso que leva a audiência a consumir apenas as produções televisivas sensacionalistas em detrimento das reportagens imparciais e com qualidade, pois a televisão transformou-se em “um fenômeno de massa de grande impacto na vida social”[4].

Segundo Curado[5], a decisão das matérias que vão ou não ao ar depende do “impacto e a oportunidade de divulgação daquela notícia”. Squirra cita Jean Cocteau sobre a espetacularização de uma simples entrevista quando este (Cocteau) afirma que “sempre que encontro um jornalista ele me interroga (...) digo algumas poucas palavras e ele faz o maior barulho possível. Daí por diante responsabilizam-me pelo barulho”[6]. Barbeiro e Lima explicam ainda o papel do editor para evitar a espetacularização[7]:
O editor deve utilizar todos os recursos audiovisuais
possíveis para conseguir uma boa edição, mas nunca
se valer deles para deturpar uma reportagem.

O cuidado maior para prevenir este tipo de situação de espetacularização compete ao editor, pois uma notícia com exagerada carga de emoção, visual ou auditiva, pode “desequilibrar um telejornal ou ainda provocar reações incontroláveis dos telespectadores”[8].

Assim sendo, não! Não se justifica o emprego da dramatização para tornar o conteúdo mais atraente ao grande público pois, ao término da comunicação, observa-se perda de qualidade na informação entregue ao expectador, e perda de tempo da audiência em assistir conteúdo com informações irrelevantes ou deturpadas.

Fontes:
[1] Fonte Wikipédia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Gatekeeping_%28communication%29; acesso em: 01 de outubro de 2006
[2] SQUIRRA, Sebastião Carlos de M. Aprender telejornalismo: produção e técnica. São Paulo: Brasiliense, 2004. Página 135.
[3] BARBEIRO, Herótodo & LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de telejornalismo: Os segredos da notícia na TV. 4ª reimpressão, editora Campus. Rio de Janeiro: 2002. Página 13.
[4] BARBEIRO & LIMA: 2002. Página 15.
[5] CURADO, Olga. A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002. Página 15.
[6] SQUIRRA: 2004. Página 48.
[7] BARBEIRO & LIMA: 2002. Página 106.
[8] SQUIRRA: 2004. Página 94.

domingo, 1 de outubro de 2006

Internacionalização da Amazônia

(Cristovam Buarque)

Há alguns anos atrás, em 2001, tive acesso a ao texto abaixo. Virei fã do jovem.

Ele foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

O texto é sobre um debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, Cristovam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado.

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.

Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."